No dia 02/10/2024 a polícia prendeu o ex-deputado estadual de Santa Catarina, Nilson Nelson Machado, que também é conhecido como Duduco e se apresenta como “Catarina da Lapa”. Nilson é um homem que alega não ser homem.

Ele também é predador sexual de menores.

Em Florianópolis, Nilson abriu um abrigo-creche que administrou por mais de 30 anos.

Obviamente o abrigo era o lugar em que ele abusava das crianças.

A IstoÉ noticiou que Nilson trocou de nome “sem informar as autoridades“. Mas é claro que Nilson informou as autoridades, ou seria impossível que ele trocasse de nome. A autoridade responsável e informada, no caso, foi o DETRAN-RJ. Ou seja, o próprio ESTADO permitiu, auxiliou e legitimou que um abusador sexual trocasse de nome.

É claro que o DETRAN-RJ não permitiu especificamente que um predador sexual trocasse de nome, a troca é permitida para qualquer pessoa que alegar não pertencer ao próprio sexo, por uma decisão do STF. A decisão de 2018 também acabou com a necessidade da apresentação de um laudo médico.

Expedido oficialmente pelo DETRAN-RJ


Em Julho deste ano nós explicamos por que a defesa da infância não é o melhor caminho para combater tamanho ataque ao sexo feminino, que inclui as meninas. Explicamos que proteger as crianças não protege as mulheres, mas protegendo mulheres protegemos as crianças. Explicamos por que as crianças dos dois sexos não estarão seguras, mesmo que as resguardemos de serem usadas como cobaias. Explicamos que a defesa a ser feita tem que ser com base no sexo feminino, não na idade.

Muitas mulheres foram ao nosso Instagram e em vez de responder ao texto (que não leram!) preferiram combater um espantalho.

Vamos enumerar aqui os modos pelos quais o sexo feminino é atacado quando o Estado permite que um homem “troque de sexo” nos documentos e que isso tenha valor legal. As vítimas diretas são mulheres e meninas, mas o perigo pode se estender aos meninos também.

1) Qualquer homem pode alegar não ser homem, mesmo que ele comprovadamente ofereça perigo às mulheres e meninas;

2) O pesadelo burocrático gerado pela troca de documentos e as proteções atreladas dificulta a identificação e localização de agressores e abusadores. Foi por causa da troca de nome que Nilson conseguiu se esconder da justiça;

3) A troca legal de documento permite a Nilson alegar preconceito da parte daqueles que o identifiquem como homem;

4) Esse suposto preconceito teria o mesmo peso do crime de racismo, ou seja, com flagrante deveria ser inafiançável. A polícia, ao perguntar se Nilson se chama Nilson, estaria supostamente constrangendo sua identidade;

5) Uma vez preso, Nilson pode escolher ir para uma cadeia feminina. Mesmo que Nilson não tivesse cometido crimes de caráter sexual, sua presença em um lugar em que mulheres estão presas viola o direito das mulheres à privacidade e as coloca sob risco. O Brasil tem mais de 850 mil homens presos e menos de 45 mil mulheres presas, talvez as unidades prisionais femininas sejam menos precárias;

6) No caso de crianças entre 0 a 9 anos, 81% dos agressores são do sexo masculino e 76,9% das agredidas são meninas. Entre 10 e 19 anos, 86% dos agressores são homens e 92,7% das agredidas são meninas. Os dados são do Ministério da Saúde, mas com os governos se recusando a estipular que o sexo é imutável e é o critério objetivo, é impossível saber da integridade dessas informações. É um problema estatístico: Nilson foi incluído nesses 81% ou 86%, ou ele foi incluído entre as mulheres agressoras? Jamais saberemos, mas não será de se surpreender se as estatísticas de crimes sexuais cometidos por mulheres aumentarem: é só mudar o significado de mulher que elas aumentam mesmo. Nilson, para todos os efeitos legais, não é mais homem.

Por fim, as notícias não especificaram com o quê Nilson estava trabalhando, mas após trocar de nome e alegar não ser mais homem, nada o impedia de continuar tendo acesso a crianças. Claro, nada impede nenhum homem de, de fato, acessar crianças, mas se o próprio Estado cria um modo dos perpetradores de violência trocarem de identidade, é muito mais difícil encontrá-los.

Nilson bem feliz de ter saído de Florianópolis e entrado no Rio de Janeiro


Nilson é um homem público, um político conhecido em seu estado. Se com esse perfil ele conseguiu fugir, trocar os documentos sem dificuldade e sumir por mais de um ano, imaginem quantos outros anônimos não estão por aí se aproveitando da mesma situação.

Nós avisamos. Outras de nós estão avisando desde os anos 70. Estamos cansadas.

Mas não vamos parar de avisar.

Caso isolado do dia – Nilson Nelson Machado
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