Muita coisa precisa ser destrinchada do discurso dos homens que alegam não ser homens. Por isso nós temos uma preocupação tão grande com a linguagem e insistimos tanto nesse assunto: homens particularmente misóginos e antifeministas inventaram termos para nos descrever e para fingir que eles são mulheres, para nos ofender de modo escancarado ou sorrateiro, para que os homens sejam colocados à frente do feminismo, etc. Não vamos citar os termos, não escrevemos em linguagem fantasiosa. Mas sugerimos que as mulheres analisem todos os termos que “aprenderam” nos últimos 10 anos para falar de feminismo, inclusive alguns que acreditam ter “ressignificado”.

Mesmo sem repetir as palavras fantasiosas podemos dar exemplos. Vejam o que aconteceu no Reino Unido essa semana. Um sex shop comprou espaços de propaganda em diversos metrôs para promover seu novo site, um IA que trata de sexo e fetiches. As propagandas não eram imageticamente explícitas mas eram textualmente claras, e não é a primeira vez que a empresa espalha propagandas pelas ruas. Tudo normal, ninguém está escandalizado, as propagandas estão nas paredes, fim de história.

Mas sabe com quê as pessoas se escandalizaram anos atrás? Com a propaganda comprada pela ativista Posie Parker que dava a definição do Google para a palavra mulher: fêmea humana adulta. Esse outdoor foi proibido porque seria “preconceituoso” e “perigoso”.

A normalização do fetiche avança ao lado da desumanização das mulheres. Da proibição, velada ou exposta, de que as mulheres se definam, se protejam e se organizem.

Outro exemplo: essa semana na Itália começaram as chamadas para o 28 de Setembro, que é o Dia Internacional do Aborto Seguro (e é também o Dia Latino Americano pela Descriminalização do Aborto na América Latina e no Caribe). O material de divulgação falava do suposto preconceito com pessoas que alegam ser de outro sexo. Falava de racismo, de homofobia, de preconceito com estrangeiros… Também reproduzia aquela bobagem sobre “ricas poderem abortar”, o que é falso e preguiçoso. Mas o que mais chamava a atenção é que a palavra mulher não foi incluída nem no texto nem nas imagens. Isso não aconteceu sem querer, e devemos estar atentas a esse tipo de coisa.


Se não fosse por mais nenhum motivo, vocês deviam chamá-los de homens apenas por birra. Para reancorar a realidade precisamos retomar as palavras. Todo mundo sabe que homens não são mulheres, que a diferença é sexual e isso não é um conhecimento ou uma análise feminista, é a observação da nossa espécie. Dois sexos, muitas anomalias, comportamento e apresentação mutável para todas as pessoas.

Quando chamamos os homens de mulheres, ou quando os chamamos de modo a esconder ou apagar que são homens, criamos outras categorias. E eles se aproveitam amplamente disso.

Vejam só: mulheres são os seres humanos (adultos) do sexo feminino. Nós podemos ser de todo jeito, porque tudo que não é o sexo – nossa biologia – nós dividimos com os homens. Então mulheres podem ser ameríndias, caucasóides, negróides, etc. Nada disso é uma subcategoria sexual, não são categorias de mulheres, são categorias raciais (e novamente, divididas com homens). Isso serve para tudo, classe social, saúde, cultura, etc.

A categoria de mulher é só uma: somos o grupo do sexo feminino.

Então quando eles dizem que são mulheres também, seria como se existisse outra categoria de mulher, outra categoria sexual, uma que abarcasse os homens. O que eles querem é que mulher não seja uma categoria sexual, mas de algum modo comportamental. Nosso sexo não varia, é imutável, mas o comportamento humano pode ser qualquer um.

Quando eles alegam que “são mulheres como todas as outras”, frequentemente dão o exemplo racial para fingir que todas as outras condições também são categorias de mulheres. Além de ser mentira isso é só a primeira parte da pegadinha, porque, ao mesmo tempo em que afirmam veladamente que seriam “mulheres do sexo masculino”, se colocam em outra categoria, a categoria protegida de PSMAN (Pessoas do Sexo Masculino de Autoidentidade Narratória), de travestidos.

Alguns anos atrás começamos a fazer uma lista. Assim nós temos o “primeiro cineasta travestido”, “primeiro professor travestido empossado na UFPI”, “primeiro farmacêutico travestido do Pernambuco”, “carioca é o primeiro travestido vice-campeão de fisiculturismo (feminino) da história”, “primeiro travestido candidato ao Miss Universo”, “primeiro travestido candidato a premiê da Tailândia”, entre muitos outros.

Nessas horas esses homens evidentemente não estão sendo considerados mulheres, ou nada disso seria notícia.

Quando esses homens se candidatam em partidos políticos usando a cota de 30%, aí estão exigindo ser parte do grupo de mulheres. E estão sendo assim considerados!

Quando conseguem cotas exclusivas para Pessoas de Autoidentidade Narratória, independentemente do sexo, não são mulheres. Mulheres não podem se candidatar a essas cotas.

Quando invadem e conquistam os esportes femininos, são parte das duas categorias.

Quando cometem crimes “são mulheres como todas as outras”. Vários jornais têm noticiado crimes sem especificar que foram cometidos por homens que alegam ser mulheres. Isso acontece também com as estatísticas, em que são considerados mulheres.

Quando vão presos por cometer um crime, um juiz ou juíza deve decidir se eles vão para a prisão masculina ou feminina. Aqui é importante mencionar uma coisa. As prisões são divididas por sexo. Em 2021 o poeta e ministro Luís Roberto Barroso deu a esses homens a opção de escolher se iam para a prisão masculina ou feminina. A decisão foi derrubada no ano passado, e o juiz ou juíza que decidir leva em conta… O que diz o preso. Foi a troca do seis pelo meia dúzia. Mas não faz muito tempo que eles iam todos para a prisão masculina, e a maioria queria estar na prisão masculina, porque geralmente eram gays ligados à prostituição. E tanto eram gays que foi assim que se enfiaram no movimento gay e ganharam status de minoria.

A demografia desses homens mudou drasticamente na última década. Hoje basta a palavra deles sobre seus supostos sentimentos.

Isso significa que às vezes esses homens são considerados do sexo feminino (oficialmente e/ou legalmente) e que às vezes eles são considerados outro grupo. Mas eles não são mais vistos pelo que eles são – homens! – e nós caminhamos para um futuro em que dizer que eles são homens, que eles não são mulheres será criminalizado.

Nós lutamos contra esses ataques e precisamos resistir em diversas áreas. A primeira é como explicamos esse tema para as pessoas. Tenham isso sempre em mente para não cair nas armadilhas de termos fantasiosos e categorias falsas, porque elas atrapalham a comunicação e nos apartam do nosso objetivo.

Falsas categorias

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