O ensaio a seguir foi traduzido com a permissão de sua autora, Lierre Keith, a partir da versão publicada no site Women are Human. Tal versão, por sua vez, foi publicada na antologia Female Erasure: What You Need to Know About Gender Politics’ War on Women, the Female Sex, and Human Rights, editada por Ruth Barrett. Este texto já apareceu em uma série de outros sites, e partes dele são derivadas de um outro texto escrito por Keith e Derrick Jensen e publicado no CounterPunch, intitulado “The Emperor’s New Penis”.
Neste texto, Lierre Keith utiliza o conceito de “gênero” em sua acepção geralmente aceita originalmente na teoria feminista, ou seja, a dimensão social da dominação masculina sobre as mulheres, tendo o sexo como dimensão material dessa dominação. Tal palavra, porém, ganhou nas últimas décadas uma série de significados que a tornaram quase que irremediavelmente inútil se a intenção é teorizar sobre o poder que os homens exercem sobre as mulheres. Se, com o tempo, esse termo perdeu sua força a passou a servir como um eufemismo para sexo, hoje o principal significado atribuído a ele é o de performatividade: funções sociais que, enquanto construções, podem ser exercidas de modo subversivo. O que esse último significado falha em abarcar é que subverter a lógica da dominação é algo que as mulheres sempre fizeram onde puderam resistir às imposições dos homens.
Pedimos a você que tenha em mente durante a leitura esse significado original que a autora quis atribuir ao termo, levando em conta o contexto em que ela o utilizou. Hoje essa palavra já não cabe nas nossas teorizações, e nós da WDI Brasil recomendamos a sua não utilização. Existem muitas formas de dizer as coisas. Um termo que traz consigo tanta ambigüidade e falta de clareza é mais que desnecessário: é uma pedra no caminho dos nossos objetivos. Um estorvo cujo objetivo é confundir e, na confusão, aproveitar para nos desmobilizar. É isso que nos faz insistir tanto em uma linguagem limpa e acurada. Boa leitura!
“Sistemas de poder são capazes de se reorganizar, e as coisas parecerem diferentes não significa que a hierarquia mudou. É para a hierarquia que temos que olhar, não para o fato de que alguns padrões sociais de comportamento são diferentes. Temos que olhar para quem está acima e para quem está abaixo e, então, se tivermos coragem suficiente para fazê-lo, temos que olhar para o que ele está fazendo à ela enquanto está acima e ela está abaixo.
— Andrea Dworkin, “Life and Death: Unapologetic Writings on the Continuing War Against Women” (1997)
“O progresso mecânico masculinista marcha para eliminar a realidade auto-centrada no feminino.”
— Dr Mary Daly, “Gyn/Ecology: The Metaethics of Radical Feminism” (1978)
Por Lierre Keith
Capturado em um tubo de ensaio, o sangue pode parecer um líquido estático, mas ele é tão vivo, animado e inteligente quanto todo o resto de você. Ele também corresponde a uma boa parcela da sua composição: de todos os seus 50 trilhões de células, um quarto é de glóbulos vermelhos. Dois milhões de células como essas nascem a cada segundo. Em sua jornada à maturação, os glóbulos vermelhos se desfazem de seu núcleo — seu DNA, sua capacidade de se dividir e se reparar. Elas não possuem futuro, têm apenas um propósito: carregar a hemoglobina que contém o seu oxigênio. Elas mesmas não utilizam o oxigênio — apenas o transportam. E fazem isso com precisão primorosa, completando o ciclo de circulação através do seu corpo a cada vinte segundos durante uma centena de dias. E então, elas morrem.
O núcleo da hemoglobina é uma molécula de ferro. É o ferro que capta oxigênio da superfície dos seus pulmões, circula através do fluxo de sangue, e então o entrega às células em necessidade. Se falta ferro, o corpo, como se sabe, tem um plano de emergência. Ele adiciona mais água para incrementar o volume de sangue; sangue ralo viaja mais fácil através dos capilares finos. Assim se faz mais com menos.
Tudo certo, exceto que há menos e menos oxigênio sendo oferecido às células. Outro plano entra em ação: o aumento do débito cardíaco. O coração aumenta seu volume e frequência sistólica. Para impedir que você exploda, o cérebro entra em cena, dando sinais aos músculos que encobrem cada vaso sanguíneo, dizendo a eles para relaxar. Agora o volume de sangue pode aumentar enquanto a pressão sanguínea se mantém estável.
Mas mesmo assim o ferro não chega. Nesse ponto, os outros órgãos precisam cooperar, abrindo mão do fluxo sanguíneo para proteger o cérebro e o coração. A pele é quem faz os maiores sacrifícios, e é por isso que os anêmicos são conhecidos por sua palidez. Os sintomas percebidos pela pessoa — no caso, você — irão aumentar conforme os seus tecidos, e então os seus órgãos, começarem a minguar.
Sem alívio, no fim das contas todos os planos irão falhar. Mesmo um coração forte só pode aguentar por algum tempo. O sangue retorna para os capilares. Sob pressão, líquido vaza nos tecidos adjacentes. Agora você está inchando e não sabe o porquê. E então os pulmões se rompem. Os alvéolos, pequenos sacos que esperam a promessa de ar, enrijecem com a enxurrada. Não precisa de muito. Os alvéolos se enchem de líquido. Seu corpo está se afogando. Isso se chama edema pulmonar e agora você está com um problemão.
Eu sei disso porque aconteceu comigo. Fibróides uterinas drenam o equivalente a uma cena de assassinato de dentro de mim todo mês; a cirurgia para removê-las me fez cruzar o Rubicão de glóbulos vermelhos. Eu não fazia ideia: meu corpo entendeu e respondeu. Meus olhos incharam, bem como meus tornozelos e panturrilhas. E então, eu não podia mais respirar. Respirar doía. Finalmente parei de escutar os conselhos do meu cachorro — “Tire uma soneca! Comigo!” — e me arrastei até o pronto-socorro, onde, eventualmente, tudo isso foi revelado.
Duas semanas mais tarde o fluxo diminuiu, absorvido de volta a algum tecido pantanoso do meu corpo, e senti que a falta de dor era algo positivo. Respirar era maravilhoso, a melhor coisa que eu poderia imaginar. Cada momento de respiração descomplicada era tudo o que eu mais queria. Eu sabia que isso ia passar e eu iria esquecer. Mas por alguns dias, eu estava viva. E isso era bom.
Nossos corpos são, ao mesmo tempo, tudo o que temos e tudo o que poderíamos querer. Através deles, estamos vivos e somos capazes de estar vivos. Existe júbilo na superfície da pele aguardando pela luz do sol e por tecidos macios (ambas coisas que produzem endorfinas, então sim: júbilo). Existe o som constante e resoluto dos nossos corações. Bebês aninhados perto dos corações de suas mães aprendem a respirar melhor que aqueles que não são ninados ali. Há a força dos ossos, a flexibilidade dos músculos e sua complexa coordenação conjunta. Somos um conjunto de impulsos elétricos dentro de um ambiente aquoso: como? Bom, os nervos que conduzem esses impulsos são cobertos por uma bainha gordurosa chamada mielina — eles ficam isolados. Isso permite “comunicação ágil entre partes distantes do corpo”. Entenda: tudo está vivo, se comunica, toma decisões e sabe o que está fazendo. Mal podemos imaginar os seus meandros. Começar a explorar as filigranas do cérebro, das sinapses, dos nervos e dos músculos é saber que até mesmo o seu piscar de olhos é um milagre.
Nossos cérebros levaram dois milhões de anos para chegar onde estão. Esse crescimento longo e lento dobrou nossa capacidade craniana. E a primeira coisa que fizemos a respeito disso foi agradecer. Desenhamos os grandes animais e as grandes mulheres, nós os esculpimos e os entalhamos. A escultura figurativa mais antiga que se tem notícia é a Deusa de Hohle Fels, e 40 mil anos atrás alguém gastou centenas de horas esculpindo-a. Não tem mistério aqui, não para mim: os animais e as mulheres nos dão a vida. É óbvio que eles foram o nosso primeiro projeto artístico, interminável. A reverência e a gratidão estão intrincadas em nós, em nossos corpos e cérebros. Muito tempo atrás, nós sabíamos que estávamos vivos. E isso era bom.
E agora nós deixamos o reino dos milagres e entramos no inferno.
O patriarcado é a religião dominante no planeta. Ele vem em várias versões — algumas são velhas, outras são novas, algumas são eclesiásticas, outras são seculares. Mas no fundo, elas são todas necrófilas. Erich Fromm descreve a necrofilia como “a paixão de transformar tudo o que é vivo em algo inanimado; de destruir pela simples destruição; o interesse exclusivo em tudo o que é puramente mecânico”. Nessa religião, o pior pecado é estar vivo, e os portadores deste pecado são as fêmeas. Sob o patriarcado, o corpo feminino é abjeto; suas células gordurosas que nos dão a vida são vilipendiadas; seus órgãos geradores são desprezados. Suas condições naturais são sempre ridicularizadas: pés normais devem ser transformados em tocos de quatro polegadas; caixas torácicas devem ser esmagadas até o colapso; os seios são variavelmente grandes demais ou muito pequenos, ou totalmente extirpados. Que isso inflija dor — senão, constante agonia — não é algo periférico a essas práticas. É algo central. Quando ela sofre, ela se torna obediente.
A necrofilia é o estágio final do sadismo. O impulso sádico tem a ver com controle — “a paixão de ter controle absoluto e irrestrito sobre um ser vivo”, como Fromm o definiu. O objetivo de infligir dor e degradação é quebrar um ser humano. A dor é sempre degradante; a vitimização é humilhante; eventualmente, qualquer um acaba cedendo. O poder de fazer isso é o sonho do sádico. E quem estaria mais suscetível a ser controlada do que uma mulher que não pode andar?
Alguns substantivos: cacos de vidro, tesouras, lâminas, ácido. Alguns verbos: cortar, raspar, cauterizar, queimar. Esses substantivos e verbos criam sentenças indescritíveis quando o seu objeto é uma menina de sete anos de idade com as pernas abertas à força. Seu clitóris, com suas 8.000 terminações nervosas, é sempre cortado fora. Nas formas mais extremas de mutilação genital feminina, os lábios são cortados e a vagina é fechada com uma costura. Na noite de seu casamento, o esposo dessa menina irá penetrá-la com uma faca antes de penetrá-la com seu pênis.
Não se faz isso a um ser humano. Isso se faz a um objeto. Até aí é verdade, mas tem mais para além disso. O mundo está cheio de objetos reais — caixas de papelão e carros abandonados — que os homens não perdem tempo torturando. Eles sabem que nós não somos objetos, que temos nervos que sentem e carne que se fere. Eles sabem que não temos para onde correr quando eles se apropriam dos nossos corpos. É aí que o sádico encontra seu prazer: dor produz sofrimento, humilhação e talvez mais, e se ele pode infligí-los a ela, essa é a absoluta prova de seu controle.
Por trás do sádico estão as instituições, os poderes condensados, que nos colocam nas mãos dele. Toda vez que um juiz decide que as mulheres não têm direito à integridade física — que tirar fotos por debaixo das saias não é ilegal, que abortos espontâneos são assassinatos, que mulheres devem aceitar que vão apanhar —, o sádico vence. Toda vez que os Mestres da Moda tornam os sapatos de salto ainda mais altos e as roupas ainda menores, o sádico sorri. Toda vez que uma classe inteira de mulheres — as mais pobres e desesperadas, no mais baixo grau da hierarquia — é declarada legalmente uma mercadoria sexual, o sádico se enche de tesão coletivo. Se ele abusa pessoalmente de uma dessas mulheres não é o ponto. A sociedade decidiu que elas estão ali disponíveis para ele, outros homens asseguram a submissão delas, e elas irão obedecer. Ele pode até matar uma delas — o derradeiro ato sexual do sádico — que ninguém vai notar. E ninguém nota.
Não existe impedimento para isso, nenhum ponto final natural. Há sempre outro ser senciente e obstinado para inflamar o desejo de controle do sádico, de modo que esse vício é alimentado eternamente. Com outros vícios, o viciado atinge o fundo do poço, sua vida se torna ingovernável, e a difícil decisão a se tomar é entre parar ou morrer. Mas o sádico não está se ferindo. Não existe fundo do poço para atingir, apenas uma interminável seleção de vítimas, servida pela cultura. Nós mulheres somos o banquete em nosso próprio funeral, e o sádico está feliz em se alimentar.
Se o feminismo pudesse ser reduzido a uma única palavra, seria esta: não. “Não” é um limite, que só pode ser afirmado por quem seja capaz de reivindicá-lo. Objetos não possuem limites, e os limites dos sujeitos começam pelo “não”. Nós feministas dissemos “não”, e falamos sério.
A fronteira do “não”, quando estendida para fora, mostra o insulto de um único ser como uma agressão a todos os seres: “nós” é a palavra dos movimentos políticos. Sem esse limite, mulheres são lançadas à deriva em um mar hostil e caótico, segurando o fôlego no aguardo da próxima Coisa Ruim. Com as lentes feministas, o caos entra em foco instantaneamente. Nós nomeamos as Coisas Ruins, depois enfrentamos a negação e o desespero ao notarmos o padrão. A isso se dá o nome de teoria. E então nós buscamos as soluções. É isso que os sujeitos, especialmente os sujeitos políticos, fazem. Emmeline Pankhurst, líder das sufragistas britânicas, trabalhou em um escritório do censo registrando nascimentos. Todos os dias, jovens meninas chegavam com seus recém-nascidos. Todos os dias ela tinha que perguntar quem eram os pais, e todos os dias as meninas choravam de humilhação e raiva. Leitora, nós sabemos quem eram esses pais. Foi por isso que Pankhurst nunca desistiu.
Dizer não ao sádico é afirmar que essas garotas são sujeitos políticos, são seres humanos merecedores de direitos inalienáveis. Toda e cada vida é obstinada e soberana; e cada vida só pode ser vivida em um corpo. Não um objeto a ser dividido em partes: um corpo vivo. O abuso sexual de crianças é algo especificamente projetado para transformar um corpo em uma prisão. As grades dessa jaula podem começar como terror e dor, mas elas irão endurecer até se tornarem auto-ódio. Instigar vergonha é o melhor método para assegurar a obediência: estaremos envergonhadas — a violação sexual é muito boa em criar essa vergonha — e para o resto de nossas vidas iremos ceder. Nossa obediência é, é claro, o controle do sádico. Seu poder é seu prazer, e outra geração de meninas vai crescer em corpos que obviamente vão odiar, para se tornar mulheres obedientes.
A socialização feminina é um processo de aprisionamento e quebrantamento psicológico — conhecido também como “aliciamento” — para criar uma classe de vítimas obedientes. Ao longo da história, esse quebrantamento incluiu as chamadas “práticas de beleza” como a mutilação genital feminina e a amarração de pés, assim como o sempre popular abuso sexual de crianças. A feminilidade é apenas a psiquê traumatizada demonstrando aquiescência. Em sua essência, feminilidade é submissão ritualizada.
Isso não é natural. Não foi criado por Deus. Este é um arranjo social brutal e corrupto. Tornou-se popular em alguns círculos ativistas abraçar ideias pós-modernas da moda. Isso inclui a noção de que gênero é um “binário”. Mas gênero não é um binário: é uma hierarquia, global em seu alcance, sádica em sua prática, assassina em seus objetivos, assim como raça, assim como classe.
O gênero demarca os limites geopolíticos do patriarcado. Ele nos divide ao meio, mas não de forma horizontal. É vertical. Gênero não é um ying e yang cósmico. De um lado ele é um punho, do outro a carne ferida. É uma boca calada por um soco e uma garota que nunca mais será a mesma.
Gênero é quem pode ser considerado humano e quem existe para ser ferida. Isso precisa ser esclarecido porque os homens sabem do que são capazes. Eles sabem. Eles têm consciência do sadismo introjetado em seu próprio sexo. “Faça isso com ela”, eles dizem uns aos outros. Não comigo, um ser humano. Mas com ela, o objeto, a coisa. E “ela” precisa ser identificada de forma óbvia, visual e ideologicamente. Veja, lá está ela, incapaz de andar. Veja, lá está ela, em exibição. Ou ainda, lá está ela, isolada e coberta, disponível exclusivamente para seus olhos.
Fica ainda mais fácil quando ele pode dizer que Deus a fez assim, para se deitar sob ele e obedecê-lo. Ou a natureza a fez assim, um buraco vazio. Ou o cérebro dela a fez assim, a puta que pede por isso. Porque ela pede por tudo isso: pelo estupro, pelas agressões, pela pobreza, pela prostituição, pelo assassinato. Essas condições são o que Andrea Dworkin chamou de barricada do terrorismo sexual. Essa barricada define os parâmetros do gênero. É muito simples: mulheres estão dentro dela, homens estão fora. Na verdade, os homens estão construindo essa barricada, punho por punho e foda por foda. E são exatamente essas práticas violentas e violadoras que criam essas pessoas chamadas mulheres. É isso que os homens fazem para nos quebrantar e nos manter quebradas. É isso que gênero é: a violação e as violadas.
Noel Ignatiev, autor de Como os Irlandeses se Tornaram Brancos, argumentou a favor da abolição da raça branca, definindo-a como “privilégio branco e identidade racial”. Da mesma forma, a classe sexual “homens” é simplesmente privilégio masculino e identidade de gênero — e precisa ser abolida se as mulheres querem algum dia ser livres.
Se você nasceu fêmea, você nasceu em um campo de batalha. Será punida até por dizer isso em voz alta, mas a dura verdade é que você será punida de qualquer forma pelo pecado de ser fêmea. Agressão doméstica é o crime violento mais comumente cometido nos Estados Unidos. Trata-se de um homem batendo em uma mulher. Os homens fazem isso a cada 18 segundos. É mais ódio do que posso compreender. Neste momento o campo de batalha é uma chacina tão grande que não podemos nem mesmo recolher nossas mulheres feridas.
Um exemplo. Existem vilas inteiras na Índia onde todas as mulheres têm apenas um rim. Isso é porque os seus maridos venderam o outro. E há pessoas que querem argumentar que gênero é algum tipo de performance sexy e divertida, ou uma identidade que qualquer um pode escolher. Quando todas as mulheres só têm um rim, isso não é uma performance ou uma identidade. Isso é uma violação atroz contra os direitos humanos de toda uma classe de pessoas, pessoas essas chamadas de mulheres. É esse o significado do gênero e precisamente porque ele precisa ser abolido.
O transativista Joelle Ruby Ryan escreveu que termos como “fêmea” e “classe sexual” são “ofensivos e ultrapassados”. É razoável que alguém questione por que Ryan faz tanta questão de dizer-se membro de um grupo desses, ou por que Ryan conseguiu o emprego de professor de Estudos das Mulheres se ele acha que “fêmea” é algo tão ofensivo. Que uma realidade biológica — fêmea — possa ser chamada de “ofensiva” nos mostra o quão fundo na toca do coelho a Teoria Queer foi. Qual será a próxima vítima, a gravidade?
Transformar “classe sexual” em uma ofensa significa que a realidade das vidas das mulheres se torna mais uma vez indizível, cada uma das mulheres isolada e à deriva em um mar hostil e caótico. Aplique o termo “classe sexual” e o caos se esvai em um padrão estrito de subordinação, que vai desde os pequenos e diários insultos aos corpos e almas das mulheres até os destruidores traumas de incesto e estupro. Os crimes que os homens cometem contra as mulheres não são cometidos contra elas enquanto indivíduos aleatórios; eles são cometidos porque as mulheres pertencem a uma classe subordinada, eles são cometidos para manter as mulheres nessa classe subordinada.
Mas os transativistas não querem resistir ao gênero. Eles estão, na realidade, bastante atrelados a ele. Um deles escreve “seria uma tristeza se ‘mulher’ e ‘homem’ deixassem de ser categorias relevantes com as quais eu posso brincar”. Substitua esses termos por pobre e rico, ou por branco e negro se você ainda não entendeu como isso é ofensivo. Pessoas oprimidas não são categorias com as quais se pode brincar. Se você entende isso, a única pergunta que resta é: mulheres são seres humanos?
A parte mais estranha de todo esse debate é que são as feministas que estão sendo chamadas de “essencialistas biológicas”. Os genderistas postulam a natureza imortal e até mesmo cósmica da feminilidade. São os supremacistas brancos as únicas pessoas que acreditam na existência do “cérebro negro”. Todavia, “cérebro feminino” é uma ideia completamente aceita nas comunidades progressistas se ela vem dos genderistas. Feministas, em contraste, começam por Simone de Beauvoir: “não se nasce mulher, torna-se”. É esse tornar-se que nós queremos parar. Isso pode ser parado porque o gênero é um processo social. São os genderistas que afirmam que ele é biológico e imutável. E nós é que somos chamadas de “essencialistas”?
E são os transativistas que se conformam. Apesar de todo o papo sobre gender-bending, seus objetivos são os cosméticos, as vestimentas e as cirurgias usadas para combinar seus corpos com as suas caricaturas. Eles estão alterando permanentemente os seus corpos — removendo órgãos saudáveis e, em alguns casos, até mesmo a habilidade de poder experienciar prazer sexual novamente — para melhor se encaixar em um arranjo de poder corrupto e brutal. Isso agora está sendo feito a crianças, e algumas delas já se arrependeram. Por favor, leia essa frase novamente. Por favor!
O que se faz a essas crianças deveria soar o alarme, mas ninguém está ouvindo. Existem precedentes históricos que as pessoas de esquerda deveriam ter aprendido. Grande parte do movimento progressista abraçou a eugenia, até que essa promessa científica otimista e brilhante produziu trens pontualmente conduzidos em direção a crematórios. De forma similar, nos anos 1950 muitos liberais acreditaram que castração química era uma abordagem piedosa à homossexualidade. Olhamos para trás aterrorizados, mas nos recusamos a ver que essas coisas estão acontecendo agora. Os desajustados estão sendo quimicamente esterilizados novamente. As pessoas estão sendo cirurgicamente mutiladas a serviço da conformidade social. Crianças de 18 meses estão sendo “diagnosticadas” como “transgênero”. O que isso significa sobre alguém que sequer disse suas primeiras palavras? Que ela preferiu o brinquedo azul ao rosa? A verdadeira pergunta: e se ela preferiu? Meninas não podem gostar de azul, brincar de lutinha, ocupar espaço, disputar a presidência? Aparentemente, não. Livres para sermos quem quisermos, Você e Eu, através de Cirurgias. A prisão do gênero está se comprimindo cada vez mais.
E o corpo feminino é uma prisão. A maior parte das mulheres está em guerra constante contra seus corpos, e esta é uma guerra que a gente perde antes mesmo da primeira série: metade das meninas na pré-escola acreditam que são “gordas demais”. Se uma garota conseguir cruzar o campo de batalha, através desse terreno cultural devastador de imagens desumanizantes e sádicas, a artilharia pesada estará esperando: lá pelos seus 10 anos de idade, 90% das meninas recebeu atenção sexual não solicitada dos seus colegas meninos, e lá pelos seus 11 anos de idade são os homens adultos que as ameaçam de violações, também nessa faixa de 90%. É isso o que significa “fêmea” no patriarcado, um aprendizado constante e que começa cedo: um objeto de uso público. Se acostumem, garotas. Enquanto isso, os distúrbios alimentares, a punição lenta e torturante das células de gordura femininas, geram a mais alta taxa de mortalidade de todas as doenças mentais.
O elemento mais desolador da narrativa transgênero é o seu ódio ao próprio corpo. Na guerra da cultura contra a natureza, do gênero contra o corpo, o corpo perde. E essa derrota é transformada em uma identidade. A única ideia que possui paralelos com esta são as afirmações das “Pro-Anas” anoréxicas, que insistem que a desarticulação dolorosa entre o senso de si próprio e seu corpo é uma identidade legítima. Não temos dúvida de que as pessoas odeiam seus corpos: inanição voluntária e mutilação cirúrgica são evidências fortes e eloquentes. A questão é por quê?
Guy Debord escreveu prescientemente a respeito da sociedade do espetáculo, onde “ser se torna ter e ter é reduzido meramente a parecer”. Isso é o que tem acontecido, e o fetichismo da mercadoria dominou cada relação humana, incluindo, finalmente, aquela entre o corpo e o ser. Em vez de habitar “o animal macio que é seu corpo”, como a poetisa Mary Oliver tão docemente colocou, o corpo é um objeto para se possuir, para fazer passar fome ou para se cortar até que se aproxime da promissora e punidora imagem. Nossos genitais agora são mercadorias para se obter em vez de tecidos que habitamos; as extraordinárias terminações nervosas onde o animal encontra o divino, cortadas para criar um simulacro cirúrgico. Talvez a mercadoria tenha sido finalmente derrotada por uma força maior: a imagem propriamente dita.
O corpo certamente sucumbiu a este ataque. Escreve uma mulher destransicionada de 21 anos de idade: “eu me via na magreza atrevida dos deuses cabeludos do rock, no sorriso despreocupado dos caçadores de aventura dos filmes, na profunda dor da confusão estampada nos rostos de James Dean e Johnny Depp, mas não pude me ver no rosto de qualquer mulher para a qual eu olhava”. A serviço da imagem — e alienada de seu corpo pelo abuso sexual — ela teve os seios removidos aos 17 anos e começou a tomar testosterona, o que quase a matou. O que é mais tóxico: os químicos injetados para destruir o sexo de alguém ou a cultura que torna aquele sexo uma prisão? E por que não permitem que façamos essa pergunta?
Uma identidade baseada no ódio ao próprio corpo por definição não pode ser libertadora. Aquele animal macio é nossa única casa. Impelidas para longe dos nossos corpos, somos refugiadas em estado permanente: não há para onde ir. O ponto todo do feminismo é justamente acabar com essa cisão: o incesto, o estupro, a agressão, as tais práticas de beleza que somam uma vida toda de tortura. Isso significa que temos também que acabar com aquela ideologia que diz que homens são humanos enquanto mulheres existem para ser dominadas e usadas, aquela ideologia chamada de gênero. Medida tanto pelo volume quanto pelo efeito, a imagem dominante deste período, a que entrega essa ideologia, é o sadismo retumbante da pornografia. E a cela carcerária chamada “mulher” se torna ainda menor: não diga que essa prisão está ultrapassada.
O que tem sido feito aos nossos corpos tem sido feito ao nosso planeta. O sádico exerce seu controle, o necrófilo transforma os vivos em mortos. Aqueles que têm vontade própria e aqueles que são selvagens são suas presas, e seu projeto necrótico está quase completo.
Tomados um a um, os fatos são aterrorizantes. Durante meu tempo de vida, a terra perdeu metade de sua vida selvagem. Todos os dias, duzentas espécies deslizam para a mais longa noite da extinção. A palavra “oceano” é sinônimo de abundância e profusão. Plenitude está nessa lista, assim como infinidade. Mas até o ano de 2048, os oceanos estarão sem peixes. Os crustáceos estão experimentando o “fracasso reprodutivo completo”. Em termos simples, seus filhotes estão morrendo. O plâncton também está desaparecendo. Talvez o plâncton seja pequeno ou verde demais para alguém se importar, mas saiba disso: dois de cada três animais têm a sua respiração possibilitada pelo oxigênio produzido pelos plânctons. Se os oceanos afundarem, nós afundaremos com eles.
Como poderia ser diferente? Veja o padrão, não apenas os fatos. Havia tantos bisões nas Grandes Planícies que você poderia se sentar e observar durante dias o estouro de um rebanho. No vale central da Califórnia, os bandos de pássaros aquáticos eram tão densos que bloqueavam o sol. Um quarto do estado de Indiana era pantanal, exuberante em sua vida e com a promessa de abundância. Agora é um deserto de grãos. Onde eu vivo, a noroeste da costa do Pacífico, 100 milhões de peixes foram reduzidos a 10 milhares. As pessoas os ouviam chegar por um dia inteiro. Isso não é uma história: há pessoas vivas que lembram disso. E eu nunca ouvi nenhuma vez o som que a água faz quando 40 milhões de anos de persistência encontram seu caminho para casa. Já posso usar a palavra “apocalipse”?
O necrófilo insiste que somos componentes mecânicos, que rios são projetos de engenharia, que genes podem ser partidos e rearranjados à vontade. Ele acredita que somos todos máquinas, apesar do óbvio: máquinas podem ser desmontadas e remontadas. Um ser vivo não pode. Permita-me adicionar: um planeta vivo também não.
Entenda onde começou a guerra contra o mundo. Em sete lugares ao redor do globo, humanos desenvolveram a atividade chamada agricultura. Em termos muito crus, você pega um pedaço de terra, limpa qualquer coisa viva de cima dela, e então você a cultiva para uso humano. Em vez de compartilhar a terra com os outros milhões de criaturas vivas que precisam dela para existir, você só está cultivando humanos ali. É limpeza biótica. A população humana cresce em amplos números; todos os demais são levados à extinção.
A agricultura cria uma forma de vida chamada civilização. Civilização significa pessoas vivendo em cidades. Isso significa que eles precisam de mais do que a terra pode lhes oferecer. Comida, água e energia precisam vir de algum outro lugar. Não importa que valores amorosos e pacíficos as pessoas cultivam em seus corações. A sociedade é dependente de imperialismo e genocídio. Porque ninguém está disposto a entregar suas terras, sua água, suas árvores. Mas uma vez que a cidade tenha esgotado seus próprios recursos, é necessário sair e consegui-los de outro lugar. Foram estes os últimos 10 mil anos em poucas palavras.
O fim de toda civilização está escrito desde o início. A agricultura destrói o mundo. Não falo de um uso ruim da agricultura, é que a agricultura é desse jeito. Você derruba a floresta, ara as pradarias, drena o pântano. Especialmente, você destrói o solo. As civilizações duram entre 800 e talvez 2000 mil anos — até que o solo sucumbe.
O que poderia ser mais sádico que o controle de continentes inteiros? O sádico transforma montanhas em cascalho, e os rios devem fazer o que ele manda. A unidade básica da vida é violada com engenharia genética. Assim como a unidade básica da matéria, usada para fazer bombas que matam milhões. Esta é a sua paixão, transformar os vivos em mortos. Não são apenas mortes individuais, nem mesmo a morte de espécies. O próprio processo da vida está agora sob ataque e está perdendo feio. A evolução dos vertebrados parou faz tempo — não sobrou habitat disponível. Existem áreas na China onde não existem plantas florindo. Por quê? Porque todos os polinizadores estão mortos. São quinhentos milhões de anos de evolução: acabou-se.
Ele quer tudo morto. Essa é sua maior emoção e a única forma de controlá-la. Segundo ele, nada nunca esteve vivo. Não existe comunidade obstinada, nenhuma terra verdadeiramente selvagem. São todos componentes inanimados que ele pode arranjar como quiser, um jardim que ele consegue gerenciar. Não importa que todas as terras administradas dessa forma foram reduzidas a deserto. A integridade essencial da vida foi violada e agora ele afirma que ela nunca existiu. Ele pode fazer o que quiser. E ninguém o impede.
Podemos pará-lo?
Eu digo que sim, mas é porque não tenho intenção de desistir. Os fatos como estão são insustentáveis, mas é só ao enfrentá-los que o padrão se torna evidente. A civilização é baseada na decadência. Ela se sustenta com o imperialismo, dominando seus vizinhos e roubando-lhes as terras, mas eventualmente até as colônias se exaurem. Os combustíveis fósseis têm atuado como aceleradores, assim como o capitalismo, mas o problema subjacente é muito maior que ambos. A civilização requer a agricultura, e a agricultura é uma guerra contra o mundo vivo. O que quer que houvesse de bom na cultura antes, 10 mil anos dessa guerra fizeram com que ela se tornasse necrótica.
Mas o que humanos fazem, eles podem parar de fazer. Levando em conta que todas as instituições estão apontadas na direção errada, não existe razão material para que essa destruição continue. O motivo é político: o sádico é recompensado, e bem recompensado. A maioria dos esquerdistas e ambientalistas vêem isso. O que eles não vêem é a análise do feminismo radical: o prazer do sádico na dominação.
O real brilhantismo do patriarcado é exatamente esse: ele não apenas naturaliza a opressão, ele sexualiza atos de opressão. Ele erotiza a dominação e a subordinação, e então os institucionaliza como masculinidade e feminilidade. Homens se tornam homens de verdade rompendo limites — os limites sexuais de mulheres e crianças, os limites culturais e políticos dos povos indígenas, os limites biológicos de rios e florestas, os limites genéticos das outras espécies, e os limites físicos do próprio átomo. O sádico é recompensado com dinheiro e poder, mas ele também atinge excitação sexual a partir dessa dominação. O fim do mundo é um conjunto massivo de punheteiros se acabando em asfixia autoerótica.
O real brilhantismo do feminismo é que a gente descobriu isso.
O que precisa acontecer para salvar o nosso mundo é simples: parar a guerra. Se pararmos de atrapalhar, a vida vai retornar porque a vida quer viver. As florestas e pradarias vão encontrar seu caminho. Cada barragem e cada canal cimentado vai cair, os rios aliviarão suas tristezas e encontrarão o oceano novamente. Os peixes saberão o que fazer. Ao serem comidos, eles alimentam a floresta que protege os rios, que são a casa de futuros salmões. Esta não é uma morte de destruição, mas uma morte participativa, que faz com que o mundo se torne completo.
Às vezes alguns fatos requerem toda a coragem que temos em nossos corações. Aqui vai um deles: em 2015, as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera global ultrapassaram as 400 partes por milhão. Para a vida continuar, esse carbono precisa voltar para o chão. E então, chegamos às relvas.
Onde o mundo é úmido, as árvores formam florestas. Onde o mundo é seco, as relvas crescem. As campinas aguentam o calor extremo no verão e o frio cruel no inverno. A grama sobrevive mantendo 80% de seu corpo sob a terra, em forma de raízes. Essas raízes são cruciais à comunidade da vida. Elas provêm canais físicos para que a chuva entre no solo. Elas podem atingir quinze pés de profundidade e trazem para a superfície minerais das rochas abaixo, minerais de que toda criatura viva precisa. Elas podem reparar o solo em uma velocidade extraordinária. O material básico que elas utilizam para fazer solo é carbono. Isso significa que as relvas são nossa única esperança para remover o carbono da atmosfera.
E é isso que as gramíneas farão, se nós deixarmos. Se recuperarmos 75% das pradarias do mundo — destruídas pela guerra agricultural —, em 15 anos as relvas sequestrarão todo o carbono liberado desde o começo da era industrial. Leia isso de novo se você precisar. E leve com você para onde for. Conte para qualquer um que escute. Ainda há chance.
As relvas não podem fazer isso sozinhas. Nenhuma criatura existe independente de todas as outras. Restaurar as campinas significa restaurar os ruminantes. No verão quente e seco, a vida se recolhe da superfície do solo. São os ruminantes que mantêm o ciclo nutricional ativo. Eles carregam todo um ecossistema dentro de si, especialmente as bactérias que digerem celulose. Quando uma vaca selvagem pasta, ela não está realmente comendo a grama. Ela está alimentando suas bactérias. A bactéria come a grama e então ela come a bactéria. Seus resíduos então regam e fertilizam as gramíneas. E o ciclo se completa.
A civilização consome o ciclo, e por isso todas as civilizações terminam em colapso. Como seria de outra forma se o seu modo de vida se baseia na destruição do lugar em que você vive? Agora o solo se foi e o óleo está acabando. Ao evitar os fatos estamos assegurando que a civilização irá terminar da pior forma possível.
Podemos fazer melhor que fome em massa, estados fracassados, conflitos étnicos, misoginia, senhores de guerra mesquinhos, e os cenários distópicos que o colapso traz. É bastante simples: se reproduzir a uma taxa menor que a taxa de reposição. O problema se resolverá sozinho. E então, chegamos às meninas.
O que baixa a taxa de natalidade universalmente é aumentar o status das mulheres. Muito especificamente, a ação de maior impacto é ensinar meninas a ler. Quando mulheres e meninas têm esse pequeníssimo poder sobre suas vidas, elas escolhem ter menos filhos. Sim, mulheres precisam de controle reprodutivo, mas o que nós precisamos de verdade é liberdade. Ao redor do mundo, as mulheres têm muito pouco controle sobre o que os homens fazem aos seus corpos. Quase metade de todas as gravidezes não são planejadas ou são indesejadas. A gravidez é a segunda maior causa de morte de meninas entre 15 e 19 anos. Nada mudou muito desde que Emmeline Pankhurst se recusou a desistir.
Precisamos defender os direitos humanos das meninas porque as meninas importam. Ao que tudo indica, os direitos básicos das meninas são cruciais para a sobrevivência do planeta.
Podemos parar o sádico?
Sim, mas só se compreendermos contra o que estamos lutando.
O sádico quer o mundo morto. Tudo o que é vivo deve ser substituído por algo mecânico. Ele prefere engrenagens, pistões e circuitos a corpos animais macios, mesmo o seu próprio. Ele espera fazer upload de si mesmo em um computador um dia.
Ele quer o mundo morto. Ele gosta de fazer com que o mundo se submeta. Ele ergue grandes cidades onde antes havia florestas. Concreto e asfalto domesticam os desobedientes.
Ele quer o mundo morto. Qualquer fêmea deve ser punida, permanentemente. Quanto mais novas elas forem, mais cedo irão ceder. Por isso ele começa cedo.
Uma guerra contra seu corpo é uma guerra contra sua vida. Se o sádico conseguir que nós lutemos nessa guerra em seu lugar, nunca iremos nos libertar. Mas nós afirmamos que os corpos das mulheres são sagrados. E também falamos sério. Toda criatura tem sua integridade física, como um todo inviolável. É um todo muito complexo para ser compreendido, mesmo quando nós vivemos dentro dele. Eu não tinha ideia do motivo pelo qual meus olhos estavam inchando e meus pulmões estavam doendo. As complexidades de me manter viva nunca poderiam ser deixadas por minha própria conta.
Uma colherzinha de solo contém um milhão de criaturas vivas. Uma conchinha de vida que é mais complexa do que jamais poderíamos compreender. E ele acredita que pode gerenciar oceanos?
Teremos que igualar o desprezo do sádico com a nossa coragem. Precisamos ser páreo para o seu poder bruto com os nossos sonhos ferozes e frágeis. E precisamos ser páreo para seu sadismo sem fim com a determinação de que não vamos nos curvar, não vamos quebrar e não vamos parar.
E se não pudermos fazer isso por nós mesmas, teremos que fazê-lo pelas meninas.
Tudo o que você ama está sob ataque. Amar é um verbo. Que o amor nos convoque à ação.
Excerto de Female Erasure: What You Need to Know About Gender Politics’ War on Women, the Female Sex, and Human Rights, editado por Ruth Barrett, P. 288-299. Todos os direitos reservados a Lierre Keith. Reproduzido com permissão da autora. Traduzido para o Português Brasileiro com a permissão da autora.