Qualquer feminista séria e qualquer pessoa que esteja preocupada com os direitos das mulheres devia debater a respeito de sexo e abrigos. Claro, nenhuma perspectiva feminista vai priorizar o intercurso em abrigos, mas qualquer análise centrada em direitos e defesa das mulheres precisa, necessariamente, pedir por abrigos femininos separados por sexo. A prioridade em qualquer situação calamitosa deve ser de evitar mais abusos, de modo que é importantíssimo que abrigos sejam separados por sexo. E também os banheiros…
O homem da foto [1] é um canadense que diz ser uma mulher. Ele se apresenta como Tyler Porter e nessa época, morava em um abrigo exclusivo para mulheres. Na foto ele está no banheiro do abrigo, completamente nu, com seus tênis sujos em cima da pia compartilhada, mostrando a quem quisesse ver sua ereção. Porter relatou diversas vezes na internet suas ereções e masturbações, assim como suas brigas com mulheres do abrigo. As mulheres deste lugar, em situação de vulnerabilidade, não precisavam ser expostas a mais facetas da violência masculina. Ter um homem em um espaço exclusivo viola a idéia de exclusividade e deixa todas as mulheres que precisam daquele serviço à mercê de caprichos masculinos. Imagine sentar-se para fazer xixi e descobrir o sanitário sujo de semen. Isso não é uma divagação, existem diversos vídeos de homens se masturbando em banheiros femininos, essa também é uma categoria de pornografia.
Com a tragédia no Rio Grande do Sul, casos de abuso, estupro e importunação de mulheres e crianças vieram à tona, com pelo menos 4 homens sendo presos. Não tardou para que um discurso antifeminista se manifestasse, com o objetivo de jogar uma cortina de fumaça sobre os abusos. Ao passo que o governo reforçou a segurança nos abrigos mistos e buscou imediatamente a criação de abrigos separados por sexo, pessoas ligadas ao transativismo queriam discutir um suposto “direito ao sexo”. Vejam, todos os adultos que quiserem podem transar com quem mais topar, mas sexo em público é crime. E para que o sexo seja de fato consentido, os adultos expostos a ele tem que estar cientes. Crianças também não devem ser expostas a adultos transando, isso é outro crime.
Não à toa a idéia de “direito ao sexo” partiu de quem chama feministas (que são ideologicamente contra a exploração sexual) de “fascistas”. Enquanto gente muito moderna repete idéias antifeministas, masculinistas, “incel” de que o “direito” de transar é equivalente a respirar, beber água e comer, mulheres em situação de vulnerabilidade respiram aliviadas por poderem ir para abrigos exclusivos. Mesmo tendo suas inseguranças diminuídas pela reportagem elas relatam [2] que agora conseguem dormir sem medo, o que achavam improvável em abrigos mistos.
Não poder transar durante uma calamidade é só uma inconveniência. Uma muito menor do que perder os pertences, a casa, membros da família. Menor que a incerteza do futuro, menor em infinitos graus que a insegurança alimentar. As pessoas pobres, sem teto, desabrigadas, refugiadas não são animais no cio, incapazes de se controlar e viver em sociedade. Aqueles que eventualmente não consigam se controlar a ponto de violentar outros vulneráveis devem mesmo ser privados do convívio social.
Precisamos falar de sexo em abrigos, após enchentes, terremotos, em zonas de guerra. Buscar a prevenção da violência sexual é falar de sexo. Não esqueçamos também de ressaltar o sexo que mais pratica a violência e exploração sexual é o masculino e o sexo da maioria das pessoas que são vítimas dessa violência e exploração é o feminino. Eis aí a estrutura: a história de Porter e a violência nos abrigos do Rio Grande do Sul são faces da mesma moeda. Ambas devem ser coibidas.
[1] https://web.archive.org/web/20201101005339/https://www.womenarehuman.com/male-transgender-boasts-of-harassing-women-in-crisis-shelter/
[2] https://www.bbc.com/portuguese/articles/c88z4rj545do